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Divaldo Pereira Franco

Nota de solidariedade 


    No dia 13 de maio de 2025, desencarnou Divaldo Pereira Franco, que se tornou conhecido, dentro e fora do movimento espírita, pela sua oratória, pela atuação mediúnica e pelo trabalho filantrópico da Mansão do Caminho, departamento assistencial do Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

     Com uma produção psicográfica de fôlego e uma oratória vibrante, durante décadas Divaldo percorreu o Brasil e o mundo, divulgando ideias espíritas.

     Em Salvador, a Mansão do Caminho tem sido responsável, desde meados do século passado, por levar auxílio material, educação e amparo espiritual a milhares de crianças, jovens, adultos e idosos carentes do Bairro de Pau da Lima e adjacências, como relevante contribuição social para a cidade de Salvador.

     Além disso, o Centro Espírita Caminho da Redenção tornou-se instituição de referência para muitas outras iniciativas no movimento espírita, atraindo grande número de pessoas interessadas no conhecimento espírita e necessitadas de socorro espiritual.

     Sua trajetória foi marcada por momentos de embates de ideias, dentro e fora do movimento espírita, como decorrência natural de formas diferentes de pensar e sentir o mundo, as questões sociais e os próprios postulados espíritas. É inegável, contudo, a relevância de seu trabalho para difusão e popularização das ideias espíritas e da proposta consoladora do espiritismo.

     Na década de 1990, a Editora Arte e Cultura que, posteriormente, tornar-se-ia a Editora Lachâtre, publicou edições dos livros Médiuns e mediunidades, assinado pelo espírito Vianna de Carvalho, e Plenitude, assinado por Joanna de Ângelis. Também é de conhecimento público a amizade que existia entre ele e Hermínio Miranda, que atribui ao médium uma importância singular na definição de seus rumos como "escriba" no movimento espírita.

     Sua desencarnação marca não só o fim de uma geração de médiuns e divulgadores de massa, como também o início de novos desafios para a obra assistencial que fundou e manteve, ao lado do amigo Nilson de Souza Pereira, obra que encontrava nele, Divaldo, seu principal entusiasta e divulgador.

    A Lachâtre solidariza-se com a comunidade espírita, em especial com os colaboradores do Centro Espírita Caminho da Redenção e da Mansão do Caminho, rogando a Deus e aos bons espíritos que os amparem, bem como a Divaldo, neste momento de transição.

 

Pedro Camilo de Figueirêdo

Diretor-presidente e editor da Lachâtre

 

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🔊Nova edição! Nossos filhos são espíritos 🌟


✨Herminio é reconhecido, dentre outros, por suas pesquisas em torno da mediunidade e pelo emprego do método das “simetrias históricas” para tentar rastrear, no decurso do tempo, personalidades que marcaram a Humanidade e que teriam reencarnado em momentos-chave, desempenhando relevantes contribuições.


📖Em Nossos filhos são espíritos, “convocado” a escrever sobre o tema pelos amigos espirituais, o escriba realiza uma importante pesquisa em que a imortalidade da alma e sua preexistência à formação do corpo são apresentadas com fortes indícios, a partir de estudos científicos e de experiências transcendentais diversas. A compreensão e a aceitação dessa realidade leva-nos a tratar as crianças e os adolescentes, a partir de então, como espíritos amadurecidos transitoriamente em corpos novos, daí defluindo toda uma transformação no modo de educar e de se relacionar com eles.

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✨Dado o grande valor de suas obras para a divulgação do espiritismo e do espiritualismo, visto que sempre tinha o cuidado de escrever para todo tipo de público, especialmente o não espírita, esta 15.ª edição marca a consolidação de seus livros mais significativos em uma coleção, a Coleção Herminio C. Miranda, e apresenta dois adendos significativos: um texto biográfico escrito por Marta Chiarelli de Miranda, segunda filha do escritor, e uma declaração de afeto feita por Ana Maria Miranda, sua primogênita, designada na própria obra como “embrulhinho morno” e que, desde a desencarnação de Herminio, em 2013, tem se desdobrado para manter vívida as relevantes contribuições deixadas pelo pai.


💡 Nossos filhos são espíritos, com 224 páginas em formato 15,5x22,5cm, é publicado pela Editora Lachâtre e está em sua 15.ª edição. Essa nova edição estará disponível a partir do dia 24 de abril de 2025, pelo site e pelos canais de venda direta da Lachâtre.


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A Campanha Setembro Amarelo funciona? 

Uma análise do cenário brasileiro

                                                                                                                          

 Psic. Danilo F. S. Cruz

Especialista em Saúde Mental
Professor, Escritor, Psicoterapeuta na Numen Psicologia
Profissional de Atendimento Integrado - Psicólogo do CAPS II São Caetano/Valéria

Não. Sinto muito... Não sou eu quem diz isso. Ela realmente não funciona. A incidência de morte autoprovocada está aumentando (em algumas categorias populacionais específicas está permanecendo estagnada), apesar da Campanha¹ ² ³ ⁴. A Associação Brasileira de Psiquiatria organiza junto ao Conselho Federal de Medicina, desde 2014, em todo Brasil, o Setembro Amarelo. Em 2024, o lema é “Se precisar, peça ajuda!” e diversas ações já estão sendo desenvolvidas. Mas qual é a real eficácia disso?

Segundo Lima e Brandão (2021)¹, "não foi identificada alteração de tendência na frequência de suicídios a despeito da implementação da campanha na população geral, porém observou-se crescimento na tendência de suicídios na população entre 15 e 29 anos, bem como estabilização entre indivíduos com 60 a 79 anos após seu início." Esse estudo aventa a hipótese de que a divulgação de maneira não regulada do tema suicídio pode justificar os achados.

Há que se falar ainda sobre a "Positividade Tóxica" carreada por esse tipo de estratégia: falas repletas de uma simplificação forçada, tais como “viver é o melhor remédio”, "veja o lado bom da vida", "esqueça isso e siga adiante", etc., são formas de estimular o mecanismo de defesa do ego chamado "Negação". Ou seja, jogar a sujeira para baixo do tapete.

Tais campanhas são atravessadas por uma lógica individualizante do sofrimento, frequentemente com um viés moralista, desconsiderando problemas sociais estruturais. Vê-se ainda uma intensa medicalização da existência com vistas à criação de demanda, em uma atitude corporativista em busca de lucratividade, propondo acolhimentos de “fachada”.

Lidar com temas sociais relevantes sob a forma de campanhas "coloridas" (em vez de ações afirmativas contínuas e sistemáticas) tem se mostrado ineficaz, visto que sobrecarrega serviços e profissionais na promoção de atividades deslocadas de sua atuação, engendrando a ilusão de avanço acerca da temática, sem produzir eficiência.

Uma campanha de Promoção e Valorização da Vida deve fomentar, necessariamente, a defesa de um modo de vida que enfatize e priorize o bem-estar de sujeitos e coletividades; que acolha e promova as diversidades e os direitos humanos; que promova condições de alimentação e moradia digna, segurança, trabalho protegido, educação de qualidade, um Sistema Único de Saúde público e universal, com acesso a cuidado em Saúde Mental na perspectiva Psicossocial e Antimanicomial, políticas econômicas e sociais que atendam às necessidades de todas as pessoas.


¹ Lima, D. P. A.; Brandão, C. B. 5 years of Yellow September Campaign: Are we managing to prevent suicides? . Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 7, p. e16210716312, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i7.16312. 

² Costa de Araújo, A. C. ., Crislayne de Lima Paiva, J. ., de Sousa Lacerda, J. ., & Molano, M. M. (2021). Evaluación de campañas de salud: una revisión integral sobre la construcción de indicadores. Anuario Electrónico De Estudios En Comunicación Social "Disertaciones", 14(2). https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/disertaciones/a.9432

³ Oliveira,M. E. C. de; GomesK. A. de L.; NóbregaW. F. S.; GusmãoE. C. R.; dos SantosR. D.; FranklinR. G. Série temporal do suicídio no Brasil: o que mudou após o Setembro Amarelo?. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 48, p. e3191, 14 maio 2020. https://doi.org/10.25248/reas.e3191.2020

⁴ Corrêa Matias Pereira C, Najafi Moghaddam Gilani V, Nazif-Munoz JI. A brief research report of suicide rates in the Brazilian elderly over a 12-year period: the lack of association of the "Setembro Amarelo" campaign for suicide prevention. Front Psychiatry. 2024 Jul 25;15:1354030. doi: 10.3389/fpsyt.2024.1354030. PMID: 39119072; PMCID: PMC11306183.https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39119072/#:~:text=Conclusions%3A%20There%20is%20a%20lack,stigma%2C%20may%20not%20reduce%20suicides.

 

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 A FORÇA NO MANEJO DA FRAGILIDADE

 

 

Por Roseana Mendes Marques

 Rosena Marques é juíza aposentada, psicóloga e ex-diretora do Centro Espírita Amor, Caridade e Esperança (Ceace)


Segundo o ensinamento taoísta, a natureza é nossa grande mestra, constituindo, a vida, um fluxo de ciclos, assim como acontece com as estações do ano.

Pitágoras, citado por Herculano Pires na obra Os filósofos, pensava a vida dividida em quatro estações: a primavera, equivalente à puerícia, até os 20 anos; o verão seria a adolescência, dos 20 aos 40; o outono corresponderia à juventude, dos 40 aos 60; enquanto o inverno seria a senectude, dos 60 aos 80 [1].

Assim, nada escapa às leis e ao movimento da natureza. Vejamos as águas de um rio caudaloso e robusto. Sua força pujante não briga com os obstáculos: quando encontra uma pedra pelo caminho, não há confronto, impaciência, revolta, mas aceitação do que é o natural para acontecer no seu trajeto.

Na natureza tudo tem sua razão de existir.

Com essas reflexões, saí da peça do aclamado dramaturgo Othon Bastos, intitulada “nÃo me EntRegO, nÂo!”, no Teatro Vanucci, Rio de Janeiro.

Aos 91 anos de idade e 70 de carreira, Othon, pela primeira vez em sua existência, aventurou-se a montar um monólogo contando suas experiências, seus amores, suas alegrias, suas frustrações e muita dedicação ao ofício de atuar.

Sua história de vida se amalgama com a do nosso país: cinema novo, ditadura militar, repressão, liberdade sexual, pobreza, casamento... A plateia foi ao delírio inúmeras vezes, reverenciando esse homem comprometido e realizado, lembrando dos personagens épicos de “Beto Rockfeller”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Mulheres de areia” e “Um grito parado no ar” – este último, assisti três vezes!

Houve algo, contudo, em meio a todo aquele contexto, que me tocou profundamente: a memória!

Ao seu lado, no canto do palco, sentada em uma mesa com um texto escrito, estava ela, “A MEMÓRIA”.

A diretora e atriz Juliana Medela participa do espetáculo fazendo descrições, como uma assistente virtual; no entanto, mais do que isso, ampara Othon com deixas de falas em alguns poucos momentos de lapsos, absolutamente justificáveis pela sua idade e pela duração da peça. A atuação de Juliana confere às cenas um sentido de humanidade tão necessário nos dias de hoje, em que se forjam super-humanos na grande mídia.

Othon, ao aceitar as limitações do tempo e entregar ao público a visão de sua fragilidade física, sem qualquer subterfúgio e com a maestria de um ícone das artes, transmite-nos um ensinamento taoísta: ele transforma-se nas águas do rio que desliza sobre os obstáculos, sem revolta, ultrapassando-os com firmeza, humildade e imensa gratidão.

No ocaso da própria existência, o ator aceita-se como é; abraça a própria condição, sem negá-la. Com isso, também nos deixa uma lição de imortalidade. Ao monologar sobre as próprias memórias, apesar dos lapsos, ele acolhe o que foi e o que é, agora, mas também o seu devir, levando com ele a certeza, ainda que de modo inconsciente, de que novos verões se anunciam sempre em nossas trajetórias.

Conviver consigo no “inverno estendido” da existência, com força, alegria, paciência e generosidade, é o que desejamos para todos aqueles que tiverem merecimento e coragem para envelhecer.

  

[1] PIRES, Herculano. Os filósofos. 5. ed. São Paulo: Feesp, 2001.

 

 

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A crise do Catolicismo na Europa – parte II

                                                                                                                                

                                                                                                                                  por Rodrigo Farias

Historiador e professor, apresentador do podcast Horizonte Espírita, membro da Sociedade Espírita Sorella e do Centro de Educação e Orientação Espírita Jésus Gonçalves.


Caros leitores, este é o segundo texto da nossa série História do Espiritismo em Pílulas, originalmente publicada no SorellaCast. Nele, daremos sequência ao panorama iniciado no texto anterior, a respeito do estado do catolicismo europeu na época de Allan Kardec e da formação do espiritismo.

 

Em nosso último texto, falamos de alguns dos desafios que a Igreja Católica Romana enfrentou entre fins do século XVIII e meados do XIX. Hoje, falaremos sobre como ela reagiu a isso e, no dizer do historiador Ambrogio Caiani, “perdeu um reino para ganhar o mundo”.

A expressão já antecipa o fim dessa história. Os Estados papais, que igreja se esforçou tanto para preservar nas primeiras décadas do século, foram engolidos durante o processo de unificação da Itália, em 1861. Dividida durante séculos em vários reinos, ducados e cidades-estado, foi só depois de muita articulação política e conflitos militares que a Península Italiana se tornou um só país. A Igreja Católica fez o que pôde para proteger seus territórios disso, inclusive mobilizando tropas papais e voluntários vindos de todo o mundo – tudo em vão. E para tornar a derrota ainda mais amarga, o novo Estado italiano escolheu ter sua capital justamente em Roma, a sede da Santa Sé, até então governada pelo papa. 

Era o fim de uma era. O governo direto da igreja sobre largos territórios deixava oficialmente de existir. Isso não queria dizer que ela perdera toda a sua influência, é claro. Na Irlanda, por exemplo, um clero conservador dominava a vida cultural do país; na América Latina, o status da igreja e de suas propriedades ainda era um grande pivô nas disputas e guerras civis entre liberais e conservadores. Ainda assim, era inegável que o catolicismo tinha sofrido um baque: o moderno Estado liberal havia lhe imposto uma derrota no coração de seus domínios.

Mas essa perda de poder temporal viria a ser contrabalançada por uma revitalização do poder espiritual. Se não era mais possível ter um reino literal sob seu comando, o poder eclesiástico sobre milhões de corações e mentes em todo o mundo ainda era uma realidade. E alguns eventos “sobrenaturais” vieram reforçar essa influência.

Exemplo disso é o que aconteceu em 1846, na cidadezinha de La Salette, nos Alpes franceses. Dois adolescentes, Maximin Giraud e Mélanie Calvat, cuidavam de algumas vacas quando se depararam com uma misteriosa dama, alta e luminosa, que chorava copiosamente sentada sobre uma pedra. “Não tenham medo”, elas lhes disse, dando-lhes algumas boas notícias. Embora o seu filho estivesse zangado com o mundo, por este ter se afastado de Deus, ainda havia tempo para o arrependimento e a conversão. Também deu conselhos sobre a plantação de batatas, que vinha sofrendo com pragas desde anos anteriores. E, por fim, recomendou que o povo orasse mais, recitando o Pai-Nosso e a Ave Maria, e confiou alguns segredos aos dois jovenzinhos. Depois disso, a depender da versão dada por Maximin e Mélanie, a senhora subiu até às nuvens ou desapareceu por trás da montanha próxima. A história logo chegou ao padre local e mais tarde aos bispos, que autenticaram a história. Logo La Salette se tornou ponto de peregrinação de devotos, que creem que a “senhora” era ninguém menos do que a Virgem Maria.

Em 1858, fenômeno parecido se deu em Lourdes, também na França, e se tornou ainda mais famoso. Novamente uma jovem, Bernadette Subirous, de 14 anos, deparou-se com uma mulher misteriosa numa gruta enquanto buscava lenha. Logo ela percebeu que sua irmã e a amiga que a acompanhavam não conseguiam vê-la. Voltando outras vezes, Bernadette chegou a fazer um “teste”, jogando água benta na aparição e rezando o rosário, e se convenceu de que ela não era de origem demoníaca. A partir do terceiro encontro, de um total de dezoito, a mulher começou a falar com Bernadette, pedindo-lhe que voltasse outras vezes. A história desses encontros espalhou-se, e mais uma vez coisas fantásticas começaram a acontecer. Como em La Salette, uma fonte de água brotou no local e peregrinos começaram a frequentá-la. Não tardou para que relatos de curas milagrosas começassem a circular, aumentando ainda mais a visibilidade de Lourdes. Clérigos e até policiais interrogaram a jovem Bernadette, que passou a visitar a gruta sob o olhar de uma multidão de curiosos e devotos. As aparições estenderam-se de fevereiro a julho de 1858 e, ao fim, a França tinha o que viria a ser um dos mais famosos centros de peregrinação cristã do mundo. A partir daí, todos os anos, dezenas e dezenas de curas eram atribuídas à fonte miraculosa e à intercessão da Virgem.

Um detalhe na história de Lourdes chama atenção. Quando Bernadette perguntou à senhora quem ela era, a reposta foi: “Sou a Imaculada Conceição”. Esse era o termo usado para o mais novo dogma católico, proclamado pelo Papa Pio IX em 1854. Segundo ele, Maria de Nazaré não fora uma mortal qualquer: além de perpetuamente virgem, intocada pelo desejo sexual, ela fora concebida sem a mancha do pecado original que, na doutrina católica, assola o resto da Humanidade e é transmitido de geração em geração desde Adão e Eva. Por consequência, Maria não era apenas mais uma santa, ou a mãe mortal de um ser divino, e sim uma criatura excepcional desde o primeiro momento de sua existência.

Dessa forma, a devoção a Maria, que existia há séculos, ganhava uma clareza teológica que jamais tivera. Se antes um S. Tomás de Aquino, por exemplo, podia rejeitar a Imaculada Conceição como uma hipótese não convincente, agora, por decreto papal, quem duvidasse dessa condição singular de Maria seria automaticamente excomungado. Afinal, dogma não se discute.

Pio IX, contudo, não parou por aí. O mais importante papa do século XIX deu ainda outro passo para reafirmar o poder espiritual da Igreja e do seu cargo de papa. Era preciso, em sua visão, combater os erros que tornavam a sociedade moderna, com suas ideias liberais vindas do Iluminismo, uma inimiga da única fé legítima. Primeiro, em 1864, ele publicou o Sílabo dos Erros, nos quais enumerava dezenas de ideias e práticas que a igreja condenava, em particular várias das liberdades que mencionamos no último texto: liberdade religiosa, liberdade de imprensa, separação entre Estado e igreja, e até o racionalismo, as doutrinas de religião natural e a soberania popular.

Pouco depois, em 1869, Pio IX daria um passo além e, no Concílio Vaticano I, tornou oficial o dogma da infalibilidade papal. Isso significava que a igreja oficializava e investia toda sua autoridade na crença de que o papa, quando falava a partir da autoridade de seu cargo, não podia errar em matéria moral ou religiosa. Portanto, seus decretos nessas áreas eram compulsórios para todo católico. Nada mais de discussões infindáveis de pontos teológicos: Roma locuta, causa finita. Era o sonho dos ultramontanos: a Igreja Católica finalmente se unificava sob uma única autoridade, ainda que agora só no sentido espiritual.

Foi justamente nesse momento, diante dessa igreja em guerra aberta aos princípios da modernidade, que uma nova forma de espiritualismo surgiu, abraçada justamente aos valores que o Sílabo de 1864 rejeitava. Ciência, racionalidade, progresso, reforma social e, acima de tudo, liberdade eram as marcas dessa nova forma de vivenciar a espiritualidade. Parte dessa história você provavelmente já conhece. Mas, nos próximos textos, passaremos a algumas das figuras que abriram o caminho para ela, nos dois lados do oceano.

Até a próxima!


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                                                         A NOÇÃO DO BEM

 

Por Magdala Monteiro

  “Pertencemos ao mundo material apenas por um lado. É por isso que experimentamos tão vivamente os males. Se pertencêssemos a ele por completo, nós nos sentiríamos muito mais ambientados e muitos sofrimentos nos seriam poupados.”

Léon Denis [1]

 

   É possível viver desejando o bem, sentir o bem-estar que isso ou aquilo nos causa? 
   Pensam alguns que, na vivência do cotidiano, o bem ande escasso e que o mal se apoderou desse mundo.
   Muitas vezes ouvimos por aí: “Esse mundo não tem mais jeito, está tudo perdido! Deus, onde vamos parar?”.
   Refletindo sobre isso, quero convidar vocês, leitoras e leitores, a uma viagem ao mito da caverna, que é uma síntese alegórica de toda a doutrina de Platão, filósofo da Grécia antiga. A história desse mito consta no livro VII de A República, através um diálogo de Sócrates com Glauco, encontramos um resumo adaptado por Herculano Pires que diz assim:

 

Homens estão enfileirados no fundo de uma caverna, acorrentados de tal maneira, desde a infância, que não conseguem se virar. Olham para o fundo em cuja parede se projetam as sombras do que se passa lá fora. O sol projeta a luz e gera o movimento das sombras. Se um desses escravos se libertar, poderá voltar-se, andar, mexer, encarar a luz que adentra a caverna e assim ver a realidade. Mas existe um preço a pagar pela própria liberdade, pois estará inicialmente deslumbrado pela luz e por ver as coisas com certa dificuldade, que atribuirá às sombras a realidade. Desviando o olhar do sol achará essas sombras mais nítidas. E saindo, ao subir o caminho escarpado até a boca da caverna, em direção ao sol, sofrerá ainda mais. Até que seus olhos se acostumem com a luz, precisará de tempo, segundo Sócrates, para se adaptar à claridade da região superior, pois estaria desviando seu olhar dos objetos reais para suas sombras projetadas no solo ou nos reflexos da água. E quando esse escravo liberto se habituar a luz e tornar-se capaz de encarar o próprio sol, poderá compreender a verdadeira natureza das sombras projetadas na parede da caverna. E se voltar lá e falar para os outros o que viu e o que aprendeu, será considerado um sofredor de perturbações visuais. Mas o que viu a luz aprenderá a desdenhar as sombras e acima de tudo compreender que não pode se dar à alma a faculdade de ver, que ela já possui, mas de corrigir a direção dos seus órgãos visuais. [2]

 

Nesse mito, Platão reporta-se à realidade, mas ela se encontra fora da caverna, e as criaturas têm que subir uma estrada íngreme, sair da caverna, encontrar o sol e sentirem-se libertas das sombras a que se acostumaram, percebendo o quanto pertencem ao mundo da luz para, a partir daí, prosseguirem em busca do supremo bem. 

   
Herculano pires, no livro Os filósofos assevera: “A realidade, pois, é a ideia e a irrealidade está nas coisas, no mundo sensível. O sensível não tem segurança, estabilidade, flui continuamente, e essa fluidez é a maior prova da irrealidade. Os homens que pensam o real no sensível, são escravos da matéria voltados para as sombras no fundo da caverna”. [3]

Tais reflexões trazem, para a vida prática, o pensar sobre o que sente o ser para, a seguir, observando o seu modo de viver, fazer uma escolha: a de permanecer voltado para a parede, onde estão as sombras sem consistência, ou buscar no íntimo a lembrança de um mundo das ideias.

Estariam as ideias além dessas sombras, que são do mundo verdadeiro, de onde viemos? As sombras estariam refletindo ideias? 

Seria essa ideia, na verdade, a chave para percebermos que o bem pode ser idealizado diariamente e que o seu alcance está mais perto do que imaginamos?

Para se ter esse bem no cotidiano, seria essencial algum esforço ou ele está  no campo do inalcançável?

Há quem diga que, pelo exercício do bem no dia a dia, garantimos que ele seja prazeroso, simplesmente pela sua prática, aumentando assim o nosso desejo de realizá-lo mais vezes  e obtermos mais prazer, que tende a aumentar na medida que focamos no próximo, e não em nosso próprio prazer.

Platão disserta, em A República, que o bem está no mundo das ideias e que não basta que se preocupe com o próprio bem, devendo pensar na pólis (cidade para o grego), daí a política vir dessa relação entre as pessoas da cidade, nada parecida com a política partidária que temos hoje.

Logo, pensar na coletividade é o que atrai a felicidade que se deseja, e não se concentrar em si ou em um e outro, ou nos próprios interesses; é o agir de forma coletiva que torna feliz todo cidadão.

No mito, a ideia do supremo bem está representada pelo sol, enquanto a fogueira é o reflexo do que reside ali no interior da caverna (que é a cópia); encará-lo, contudo, é o desafio!

Léon Denis registra, em sua obra O problema do ser e do destino, o seguinte pensamento:

 

A noção do bem, gravada no fundo da consciência, é ainda uma prova evidente de nossa origem espiritual. Se o homem viesse do pó ou se fosse o resultado das forças mecânicas do mundo, nós não poderíamos conhecer nem o bem, nem o mal, nem sentir remorso ou dor moral. Dizem-nos: “estas noções vêm dos vossos antepassados, da educação, das influências sociais!” Mas se são heranças exclusivas do passado, de onde as recebemos? E por que elas se multiplicam em nós, se não encontram terreno favorável nem alimento? [...]

 

O homem é, pois, ao mesmo tempo, espírito e matéria, alma e corpo. Mas, talvez espírito e matéria sejam apenas palavras, que exprimem, de modo imperfeito, as duas formas da vida eterna, que dormem na matéria bruta, despertam na matéria orgânica, se ativa, desabrocha, e se eleva no espírito. [4]

 

Cultivar um olhar que busca além das coisas e das pessoas, com vistas à manutenção do bem em si, para realizá-lo eficazmente, talvez seja a necessidade do ser no momento presente.

A noção do bem é o fundamento da realidade, pois está além das aparências. O bem é a ideia do absoluto. É pela ideia do bem que todas as outras ideias são conhecidas, daí emanando outras qualidades.

Encerro com o raciocínio de Sócrates: “No mundo inteligível: a ideia do bem é a última a ser apreendida, e  com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas.” [5]

Ao compreender realmente o bem que têm no coração, as criaturas, durante a vida prática, já não desejam mais o mal, têm horror a ele.

Seja o que for que aconteça, atuar pelo bem ainda é a melhor dica da vida!

 

 Magdala Monteiro é Membro da Sociedade Espírita Sorella; podcaster do SorellaCast; articulista dos Blog Sorella e do Instituto MES. Licenciada em Filosofia e pós-graduada em Psicopedagogia.


 

 

[1] DENIS, Léon. O problema do ser e do destino. Rio de Janeiro: Celd, 2011, p. 69.

[2] PIRES, Herculano. Os filósofos. 5. ed. São Paulo: Paideia, 2010, p. 155.

[3] PIRES, Herculano. Os filósofos. 5. ed. São Paulo: Paideia, 2010, p. 157.

[4] DENIS, Léon. O problema do ser e do destino. Rio de Janeiro: Celd, 2011, p. 70.

[5] PLATÃO. A República. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 228.

 


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                                                A OBSESSÃO NOSSA DE CADA DIA

 

 

por Pedro Camilo de Figueirêdo

 

          Meses atrás, fui convidado por um grupo espírita do Brasil para fazer uma palestra on-line sobre o tema deste texto, “A obsessão nossa de cada dia”.

Dentre as abordagens possíveis para o tema, decidi fazer uma busca em textos escritos pelo Irmão X através de Francisco Cândido Xavier. Crônicas, contos, cartas, apólogos e outros escritos do Irmão X são sempre muto bem-vindos para tratarmos de temas do cotidiano, pois falam de perto às nossas necessidades mais caras.

Dentre os dois textos escolhidos para tratar do assunto, “O guia”, do livro Estante da vida, chamou-me atenção de forma peculiar. A obra foi publicada em 1969 e, naturalmente, retrata a sociedade da época, com seus costumes e arranjos.

Nele, Irmão X narra as “aventuras” de um dia de estágio seu ao lado de um espírito que, na nomenclatura kardequiana, podemos identificar como espírito familiar, aquele que nos acompanha de perto nas lides do dia a dia, auxiliando-nos o quanto possível nas tarefas que nos competem.

Aurelino Piva era responsável por cuidar de d. Sinésia, uma senhora de classe média que era casada, tinha dois filhos e contava com uma “secretária do lar” para auxiliá-la nas tarefas domésticas. Desde as 4h manhã, quando se desdobra para amenizar os efeitos dos excessos alimentares da noite anterior; passando pelos cuidados para que as crianças não brigassem tanto entre si; alcançando zelos com as condições de saúde do esposo; e atravessando todas as atenções dispensadas durante um dia inteiro de cuidados – surpreendemos o espírito Aurelino Piva a desdobrar-se para que d. Sinésia permanecesse “tão hígida quanto possível”, pois, conforme suas palavras, “Um dia tranquilo no corpo físico é uma bênção que devemos enriquecer de harmonia e esperança”.

Nada obstante todos os esforços de Aurelino ante os obstáculos do dia, notamos d. Sinésia assumir atitudes bastante “familiares” a todos nós: excesso no comer e na ingestão alcoólica; preguiça para despertar, visto que, embora tenha acordado às 6h, somente às 8h decidiu levantar-se da cama; pessimismo ante os problemas que o dia anunciava; indiferença para com os problemas de saúde do marido; ingratidão pelo dia admirável que tivera, sob o olhar atendo de Aurelino.

À noite, após um dia intenso de trabalho, num momento em que Aurelino se senta ao lado de Irmão X para uma conversa mais despreocupada, d. Sinésia fere o dedo com uma agulha que manejava para enfeitar um vestido.

Devido esse contratempo, d. Sinésia reclama, esbravejando:

“— Oh! meu Deus! meu Deus!... ninguém me ajuda! Vivo sozinha, desamparada!... Não há mulher mais infeliz do que eu!...”

Face à perplexidade do Irmão X, que acompanhou todas as operosidades do dia para que a assistida tivesse um dia de paz, Aurelino aduz, sem se perturbar:

“— Acalme-se, meu caro. Auxiliemos nossa irmã a reequilibrar-se. Esta irritação não há de ser nada. Ela também, mais tarde, vai desencarnar como nós, e será guia...”

Não há como ler a história desse “um dia de vida” de d. Sinésia sem pensarmos nos nossos próprios dias. Excessos, preguiça, pessimismo, indiferença, ingratidão, reclamação e irritação são alguns dos muitos sentimentos que ocupam nossas horas e nossos dias na Terra, quase sempre sem nos darmos conta dos esforços que pessoas que nos amam, seja no mundo físico, seja no mundo espiritual, empreendem para que tenhamos serenidade para lidar com as incumbências diárias.

Às vezes, atribuímos a obsessores, encarnados e desencarnados, a responsabilidade pelos nossos infortúnios, mas o certo é que, na grande maioria das vezes, somos nós mesmos, enredados por disposições semelhantes à de d. Sinésia, que construímos e alimentamos “a obsessão nossa de cada dia”.

Quem precisa de obsessor, quando pode contar consigo na tarefa de criar as “condições favoráveis” para o próprio insucesso?

                                                                   

 

 Pedro Camilo de Figueirêdo é doutorando em Estudos Contemporâneos pela Universidade de Coimbra, mestre em Direito pela Universidade Federal da Bahia, especialista em Psicanálise Clínica e em Ciências Criminais, e professor concursado da Universidade do Estado da Bahia. É editor-responsável pelas Editoras Lachâtre e Mente Aberta. É biógrafo da médium Yvonne do Amaral Pereira.

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