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Reflexões
Que mecanismos ocultos são capazes de aproximar as almas no mundo, reuni-las em grupos familiares ou de interesses comuns; de separá-las, ao longo de uma existência; e de reagrupá-las, mais adiante, no transcurso dos tempos?
Como folhas secas varridas pelo vento, numa tarde de outono, ou à semelhança de seixos que se desgastaram na esteira arenosa dos riachos e dos que se fixaram numa curva, num meandro a se revestirem de limo, os homens, algumas vezes, parecem irremediavelmente tangidos, como gado nas estradas poeirentas da vida para um destino marcado, sem alterações possíveis.
Que força estranha aquela que, repentinamente, desponta forte, no peito de um ser, ao se deparar com o outro, pela vez primeira, e leva-o a concluir que aquela criatura é o sonho de sua vida com a qual se unirá e, em seguida, quase que, invariavelmente, a expressão se transforma em realidade?
E o homem atônito, sem respostas claras, questiona, ainda, ao se deparar com a diversidade de situações que o acabrunham diante das quais se descobre impotente: amigos que se transformam em adversários por insignificantes razões; o desvio de alguém de perto tomado por ideias, comportamentos esdrúxulos e antinaturais, provocando caos onde tudo era ordem; a companheira ou o companheiro, a luz de outrora, converte-se em sombras tristes.
Vivendo em família ou constituída por eles, tomados por força do personalismo ou da tirania, desagregam-se e dispersam-se, esquecidos de que o instituto familiar é a célula, o grupo, a conquista mais importante da Terra. E com essas desagregações, a infinidade de moléstias da “psique” a levarem o ser humano a oscilar entre a apatia e o acesso de cólera, entre a fuga na aparente indiferença e o impulso destruidor, entre a pretensa acomodação passiva e o suicídio, entre os desvirtuamentos da sexualidade e a dependência química...
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Haverá um tempo em que o homem nos descobrirá, aos espíritos imortais, na condição das almas dos que viveram na Terra, “uma das forças vivas da Natureza”, descobrindo-se a si mesmo, sem medo da discriminação, do preconceito religioso ou científico. E, nesse dia, às claridades do novo entendimento reconhecerá, sem aturdimento, as origens de todos os males que assolam e arruínam, física e psiquicamente, o indivíduo, a coletividade e, consequentemente, sua Casa Planetária. A partir de então promoverá urgente assepsia no vasto oceano de ondas mentais que exterioriza de si mesmo e de onde recolhe todas as respostas aos seus anseios de baixa frequência, num terrível processo simbiótico de forças viciadas. Assim, terá compreendido as assertivas de Jesus: “Conhecereis a verdade e ela vos fará livres”; “Brilhe vossa luz”.
Por enquanto o conhecimento da vida espiritual, latente na consciência de cada, ser representará ensaios, considerando-se a pequena porcentagem dos que se interessam, estudam-na e compreendem-na. E por mais que os espíritos, sob o comando do Espírito Verdade, esforcem-se por trazer ao homem as realidades espirituais, estes fogem de compreendê-las, receosos do enfrentamento de sua própria realidade. Mesmo alguns espiritistas da atualidade, que se debruçam sobre a vasta literatura ou se acotovelam nas reuniões públicas ou específicas de estudos, permanecem na superfície das informações.
Hodiernamente, todavia, as informações multiplicam-se avassaladoramente, para avivarem, nos tempos previstos por Jesus, o acervo que jaz nas almas, tanto os arquivos imanentes desde a sua origem quanto aqueles registros mais recentes de seus últimos estágios no Mundo da Verdade, bem como os experimentados no processo reencarnatório.
Compreendendo, aos poucos, sua responsabilidade perante a vida, o homem busca sua melhoria espiritual. Os cruciantes dramas do presente, onde se nota, com clareza, a trama tecida no passado secular e milenar, constituem histórias semelhantes, quase comuns, a eclodirem por toda parte. Em contrapartida o Criador colocou à disposição do homem, para a sua reforma íntima, a possibilidade de crescimento no bem, a multiplicidade de mecanismos que, se bem utilizados, funcionam como defensivos ativos “para não cairmos em tentações”. E, semelhantemente às plataformas de lançamento, o irresistível propulsor do progresso do espírito, considerando a doce lembrança de Jesus: “nenhuma das minhas ovelhas se perderá”.
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Definindo rumos
Encontrava-me feliz ante as novas perspectivas de trabalho que se evidenciavam com a recomendação de sábios instrutores de buscarmos, eu e alguns companheiros, determinado departamento de estudos especializados, na região espiritual onde me encontrava. Refiro-me às novas perspectivas de trabalho, uma vez que, até então, já vivera outras experiências de “escolaridade”, a partir do momento em que pude recompor-me do trânsito da desencarnação. Assim, foi-me permitido ingressar tanto em atividades condizentes com a minha condição espiritual quanto em cursos diversificados e identificados como treinamentos em serviço.
A cidade espiritual que, apenas para referência, identificamos com o nome de Almenara, localiza-se no espaço não muito distante e acima da superfície terrestre, o que não significa muito, correspondente aos pontos de contato entre dois estados do litoral brasileiro e um terceiro não banhado pelo Oceano Atlântico. Isso identifica, de imediato, que as colônias e cidades espirituais não seguem, obrigatoriamente, as fronteiras, os limites geodésicos ou geográficos determinados pelo mundo terreno.
Almenara, como tantas outras, é uma cidade socorrista por situar-se próxima às regiões sombrias, todavia essa não é a sua principal função ou atividade. De certa forma é um centro especializado em estudos e treinamentos. É composta por uma população residente, fixa, levando-se em conta o período longo, nas condições espirituais, dos intervalos reencarnatórios, e outra flutuante, espíritos vindos de outras cidades, colônias ou comunidades espirituais constituindo-se de estagiários e matriculados nos diversos cursos disponíveis.
Não a conhecia totalmente, em virtude de sua extensão, mas fui informada de ser menor do que Nosso Lar e Alvorada Nova.
Consciente de que chegaria na hora marcada, caminhei tranquilamente pelas alamedas floridas e bem cuidadas, naquela manhã particularmente luminosa, observando o viço da relva e a beleza das frondes das árvores. Apesar da claridade solar num céu muito azul e límpido, a temperatura era amena e, em todo o caminho, cada modificação harmoniosa do plano paisagístico era um convite à reflexão.
Outros transeuntes em busca de seus compromissos e afazeres, aos quais cumprimentava ou por eles instada a corresponder aos cumprimentos, pareciam possuídos da mesma sensação de tranquilidade e confiança. Por fim, deparei-me com o edifício destinado a centro de estudos. De linhas arquitetônicas modernas sem excessivos arrojos, destacava-se numa pequena elevação do terreno gramado e acessado por espaçosa escada de poucos degraus.
Ante os amplos portais, um jovem monitor que nos aguardava reconheceu, pelo cartão de identificação que portava preso à roupa, sobre o peito, com meu nome, a indicação da atividade e da sala para a qual deveria me dirigir.
O rapaz apresentando largo sorriso e com imensa simpatia falou-me:
– Irmã Yvonne, venha comigo! Vou conduzi-la à sala Seminário I, o Instrutor já se encontra lá.
– Obrigado, meu filho. Todos já chegaram?
– Ainda não, a irmã é a primeira.
A sala, ampla e bem iluminada pela claridade natural que se filtrava pelas janelas envidraçadas, quase ao rés do chão, apresentava-se acolhedora. Os vasos de plantas decorativas harmonizavam-se com o jardim externo, além das janelas, em perfeita continuidade. Arrumados em semicírculo os assentos, em número de vinte, completando suas extremidades com a mesa onde se acharia o instrutor.
Qual não foi a minha surpresa ao me deparar com Antônio Alves, velho companheiro das lides espíritas do Rio de Janeiro, quando encarnado. Abnegado, humilde e sábio servidor do espiritismo, ali estava, à minha frente, com o mesmo sorriso franco e sincero. Abraçou-me com efusão e eu, emocionada, abracei-o como uma filha ao pai querido que não via de largo tempo.
Após a chegada de todos os convidados, o nosso instrutor, com um gesto, sugeriu interrompêssemos a conversação geral, comum aos componentes que desejam se conhecer, na formação de um novo grupo de trabalho ou de estudos. Depois de atendido, formulou breve oração conduzindo, com habilidade e sentimento, nossos pensamentos na direção do Senhor da Vida.
– Todos foram convidados – iniciou ele – porque têm experiência em várias atividades socorristas da vida espiritual, como as incursões nas regiões sombrias do nosso plano da vida, a enfermagem da palavra consoladora e esclarecedora, tanto diretamente aos dementados da vida espiritual quanto aos perturbados e sofredores nas reuniões mediúnicas da Terra, pelo processo da intuição aos médiuns esclarecedores. Também o trato com suicidas, o emprego do magnetismo, acrescido da experiência da mediunidade vivenciada no plano físico determinaram a seleção de vocês. Da mesma forma, o conhecimento do Evangelho de Jesus, que já detêm em sua bagagem individual, será de fundamental importância. Farão treinamento em serviço bastante específico, com estudo de casos para futuras aplicações e formação de novos grupos. Procuramos realizar atividades desse teor, nunca para crescimento exclusivamente pessoal do servidor, mas sempre com características que redundem em efeito multiplicador. A tarefa à nossa frente é nobre, no entanto demanda esforço pessoal, interesse, senso de equipe, mas, sobretudo, amor.
Meu velho amigo falava com o entusiasmo contagiante que lhe caracterizou a palavra fácil, na Terra dos encarnados. E prosseguiu:
– Será um treinamento para socorro a jovens e a tantos aprisionados a si e a outrem pela dependência química que se alastra, no mundo, assustadoramente, e quando esse processo doentio se evidencia no dependente, toda a família ou achegados mais de perto ficam doentes. Embora o centro de interesses seja o dependente, o socorro deve ser estendido a todos os satélites que lhe circulam a vida, nos dois planos existenciais, na condição de codependentes.
Antônio Alves calou-se por alguns segundos para dar oportunidade à manifestação de quem desejasse, até que um de meus colegas questionou:
– Por que tal alastramento, agora, em nosso século, uma vez que as viciações de todos os tipos acompanham o homem?
– Numa observação macro e geral, podemos dizer: a ganância dos detentores do poder e dos investidos de autoridade que, costumeiramente, negligenciam a força da educação, cumulando de verbas os setores mais imediatistas de seus governos, principalmente os voltados para o militarismo, e os da justiça que se corrompem; os mecanismos da repressão, sempre insuficientes, que comumente se mesclam com o objeto de sua ação, porque agem de igual modo; os poderosos de todas as áreas da vida humana que estimulam a permanência de uma clientela cativa, inclusive clínicas especializadas em tratamentos, por questões meramente financeiras...
– Essa informação, meu irmão, não denotaria uma fala estereotipada e costumeira das justificativas política que se desenvolvem no mundo terreno, de culpabilidade dos governos? – falou uma companheira muito atenta, após levantar o braço, que, apesar de incisiva, expressou-se com respeitabilidade.
Nosso instrutor sorriu com benevolência e falou com sinceridade:
– Obrigado por sua interferência, minha irmã, aguardava que se posicionasse dessa forma, uma vez que a reconheço pelos valores desenvolvidos, com muito empenho, na militância política de Minas e São Paulo, voltada para a valorização da juventude e, sem nenhuma lisonja, que não cabe aqui, afirmo que o fez com muito amor, independentemente das posições político-partidárias que abraçou, sem nunca ter pretensões escusas. Buscando atendê-la, devo acrescentar que, mesmo domiciliados na vida espiritual, onde buscamos nossa ascensão, estamos todos fortemente vinculados às contingências do mundo. Nosso passado enganoso, os vínculos afetivos que permanecem ou demandaram a crosta e os compromissos ainda atrelados à vida comunitária e ao Estado, por bênção divina, para onde retornaremos, não nos permitem, consciencialmente, uma libertação definitiva.
“Constitucionalmente, cabe ao Estado a promoção da saúde, da segurança e da educação para todo cidadão, o que não é fielmente cumprido, por muitos motivos, e que tem servido de pretextos e justificativas, desse mesmo cidadão, para seu descompromisso, desleixo e indiferença para com a beneficência, a solidariedade e o desprendimento em favor do próximo.
“Observem que Jesus, sem quaisquer compromissos com resgates ou dívidas, renunciou, temporariamente, ao seu reino de luz para mergulhar nas trevas do mundo como lírio imaculado no lodo, sem respingar-se dele, mas para conviver com a falácia sacerdotal, com a cultura vigente, com o preconceito reinante, com o resvaladouro moral, com a prepotência política e o poderio governamental, mas também com a simplicidade de artesãos, oleiros e profissionais da pesca, com a ciência de seu tempo, com os louvores e a fé populares, com os mestres do momento e com a escola que fundou, tratando a todos, simplesmente, como irmãos...”
Todos nós ouvíamos nosso Instrutor com profundo respeito e permanecemos em silêncio quando se calou, entretanto virou a cabeça para o lado direito do semicírculo e olhou, significativamente,para outra companheira, indicando-lhe que havia captado, mentalmente, o pensamento e o desejo de inquirir. Ela também sorriu um tanto perplexa com o fato, mas perguntou:
– Querido amigo, será que me conhece, também, de algum lugar?
– Sim, boa amiga, temos as fichas e cadastros de todos vocês. Seus perfis psicológicos, tendências, prioridades e desempenho, preferências e interesses por atividades. mas fale sem receios.
– Então poderemos dizer que esses agravamentos têm seu peso na falta de uma ação mais efetiva? E os princípios norteadores da Religião?
– Num plano mais específico – prosseguiu Antônio Alves –, essa falta de um cometimento profundo, intenso, vigoroso e prioritário, no campo da educação, favorece portas escancaradas às emersões da pesada carga do passado gerador de viciações e de culpas, o que dificulta ao espírito o cumprimento dos compromissos assumidos com a reformulação de princípios, com tanta sinceridade e esperanças, ante o retorno ao mundo das formas físicas, quando, então, volta-se à desesperança que aciona o desejo de fuga e de escape pela dolorosa porta agravante do suicídio consciente ou inconsciente, quando não são destravadas as aldravas da obsessão, com os desafetos de ontem.
“A religião, por sua vez, que se fez repressora pela ameaça do inferno, durante tantos séculos, hoje com a falsa promessa de um céu que não é capaz de superar os prazeres alucinantes do mundo, vê--se impotente na generalidade, sem o devido preparo, com algumas exceções, para enfrentar tão dura realidade, amparar e envolver a família com segurança e socorro.”
– Com esses aspectos apresentados com tanta segurança, instrutor, fica então definida a responsabilidade? – perguntou um jovem rapaz, ao meu lado. Antônio Alves olhou-o, longamente, o que de certa forma o desconcertou; desviou o olhar para um ponto indefinido, no espaço, como se buscasse algo no mais fundo de sua alma; e arrematou, dirigindo-se a todos nós:
– Meus queridos filhos – iniciou, pausadamente –, nada do que aqui discutimos deve ser assinalado na conta de responsabilidade específica. Levantamos aspectos diversificados e imagens de uma única paisagem. Há pouco lembramos que o cidadão se tem servido de pretextos e justificativas para o seu descompromisso, desleixo e indiferença com a beneficência e a solidariedade, o desprendimento e a fraternidade em favor do próximo. O espiritismo veio ao mundo para estimular os homens a se amarem como irmãos, não sob o aspecto de uma imposição religiosa em troca dos favores celestes, mas com a consciência de que a filiação com Deus remonta às origens, muito antes dos primórdios da civilização e, mais além, dos primórdios do orbe terrestre. E o intercâmbio na órbita familiar, no transcurso das civilizações, dos povos, da mais remota, primitiva e insignificante aldeia aos maiores e mais exuberantes impérios, até o nosso tempo e pelo futuro adiante, garante-nos essa irmandade universal, isso sem acrescentar as mais recentes descobertas científicas na área da engenharia genética, o que ainda trará muitas surpresas.
Quando Antônio Alves fez, novamente, alguns segundos de silêncio, manifestei desejo de inquiri-lo. De imediato ele olhou para mim, com olhar de assentimento, demonstrando, mais uma vez, que havia estabelecido profunda relação com todos nós, e nós com ele. Sorri um tanto tímida, mas ousei falar. Ousei porque me sentia tão insignificante diante de alguém com quem privei da intimidade e, realmente, não o conhecia.
– Fale, minha filha, estamos todos no mesmo caminho. Hoje estou aqui, entre vocês, e amanhã qualquer de vocês estará aqui, fazendo mais e melhor... – mais uma vez o instrutor registrara meus pensamentos.
– Como o querido amigo poderia sintetizar, falando dessa única paisagem?
– Yvonne, minha filha – ele sempre me tratou dessa forma –, encontramos em O Evangelho segundo o espiritismo, no capítulo XXV, item 8, que “A caridade e a fraternidade não se decretam em leis. Se uma e outra não estiverem no coração o egoísmo aí sempre imperará”. No capítulo IX de O livro dos espíritos, que trata da lei de igualdade, encontramos a afirmação do Espírito Verdade segundo a qual a desigualdade da condição social é obra do homem, e não de Deus, e que algum dia essa desigualdade desaparecerá quando restará, apenas, a desigualdade do merecimento, concluindo que “a sociedade [como um todo] é muitas vezes a principal culpada dos que caem na miséria. Demais, não tem ela que velar pela educação moral dos seus membros?” E quando pensamos em miséria, abrangemos toda a gama das dificuldades do espírito, em nosso planeta de provas e expiações.
Como percebemos que o tempo se havia esgotado para mais amplas discussões, perguntei, ainda com interesse na programação:
– Haverá algum processo de seleção para acesso a essa tarefa, meu amigo?
– Não, minha filha, vocês foram pré-selecionados pela folha de serviços registrados em nossos arquivos, entretanto terão inteira liberdade de optar por continuar nos programas que já vêm desenvolvendo. Ao aceitarem nossa proposta de trabalho, que exigirá dedicação exclusiva, outros darão continuidade às tarefas que desenvolvem em seus atuais setores de atividades. Não se decidam agora e, à saída, peguem, por favor, os transportadores audiovisuais que contêm toda a programação, estratégias, recursos disponíveis, métodos de abordagens, técnicas de sensibilização, simulações e instruções gerais. Estudem com carinho e amanhã, no mesmo horário, tragam-me suas decisões e, em caso positivo, iniciaremos, imediatamente, a primeira fase.
Mesmo sem conhecermos toda a extensão da tarefa, percebia, em cada semblante, a expressão da alegria sinalizadora de aceitação plena. Após a oração de agradecimento, envolvidos por delicada música, despedimo-nos acompanhados pelo sorriso amigo do nosso instrutor e, à saída, recebemos do jovem monitor os transportadores audiovisuais. Alguns eram de formato retangular e cabiam na palma da mão, tendo na parte superior um visor e um teclado na parte inferior, com possibilidades de acoplamento a monitores bem maiores. Outros eram pequenos artefatos metalizados e achatados, pouco menores do que um dedo indicador. Numa das extremidades, pequena alça na cabeça luminosa permitia transportá-lo e, na outra, um encaixe, para inseri-lo em tomada própria dos nossos aparelhos semelhantes aos de TV. Os artefatos, também destinados à comunicação, eram capazes de armazenar milhares de informações sob a forma de textos, sons e imagens fixas, como fotografias, ou em movimento, como de cinema.
À noite, seguindo as instruções de uso, inseri o dispositivo na cavidade correspondente do receptor televisivo e, de imediato, após a leitura do conteúdo, a imagem abriu-se em todo o espaço disponível. Na tela, surgiram as vinhetas relativas aos títulos e subtítulos, os créditos e a origem da produção televisiva, o programa, tudo expressivamente agradável, acompanhado por efeitos sonoros adequados.
O programa apresentava seis unidades:
1) Ação e interação mental
2) Alterações da frequência da onda espiritual
3) Psicologia espiritual
4) O Código Divino na ação socorrista
5) Psicometria, clarividência e princípios de ubiquidade
6) Manipulação da energia mental
As unidades acompanhadas de texto explicativo subdividiam-se em subunidades, completando um programa elaborado de forma clara, com todos os elementos estruturais bem conhecidos dos pedagogos, acrescidos de informações de ordem espiritual e procedimentos que transcendem a compreensão humana por falta de terminologia de referência e vocabulário comparativo adequados.
Cada unidade seria desenvolvida por um instrutor espiritual com as consequentes e imediatas aplicações em campo, junto aos encarnados.
Apesar do entusiasmo, antevia as dificuldades que deveriam ser enfrentadas e transpostas porque, para a implantação e continuidade do programa, estaríamos em permanente avaliação pelos instrutores e por nossa própria consciência, além da imprescindível participação e colaboração dos nossos irmãos encarnados. Estes, fundamentalmente, necessitariam ter mais que boa vontade e disposição para o serviço com Jesus, mas também conhecimento da realidade espiritual, informações básicas específicas sobre o assunto, sensibilidade e percepção mediúnicas e fé, muita fé. Decidi que aceitaria o convite.
Na manhã do dia seguinte, dirigi-me ao centro de estudos e, pelo caminho, fui encontrando os companheiros do dia anterior. Caminhamos firmes e convictos, num pequeno cortejo que foi crescendo. Todos haviam aceitado a proposta de trabalho e aprendizado.
De imediato, fomos conduzidos à sala Seminário I e, como no dia anterior, Antônio Alves achava-se a postos para nos receber, com satisfação.
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