Algumas palavras sobre reuniões mediúnicas

por Elton Rodrigues

Físico e professor. Fundador e editor da editora Alma Revolucionária. Membro-fundador do Instituto Mente, Espírito e Sociedade (MES).

 

O espiritismo no seu todo, experimental e filosófico, baseia-se na possibilidade que temos de comunicar-nos com os espíritos, ou seja, com as almas de pessoas que viveram na Terra. Seu poder de demonstração repousa inteiramente na mediunidade; nenhum estudo, portanto, é mais interessante, de ordem mais vital para seus adeptos do que aquele que tem por objetivo o exato conhecimento das leis que presidem a essas manifestações.

Gabriel Delanne, Pesquisas sobre a Mediunidade [1] 

 

Por que escrever mais um texto sobre reuniões mediúnicas? A literatura espírita já não possui numerosas obras abordando o assunto? É verdade que há uma variedade de textos referindo-se à mediunidade, às mensagens espirituais e à tarefa mediúnica, essas quase sempre voltadas para o atendimento espiritual de encarnados e desencarnados. Por outro lado, é inabitual encontrar bibliografia espírita propondo metodologias ou protocolos para pesquisas sobre mediunidade.

São múltiplas as razões responsáveis pelos caminhos traçados que determinaram o predomínio de uma tendência religiosa dentro do movimento espírita brasileiro (MEB), posicionando a pesquisa dos fenômenos medianímicos [2] como ultrapassada e encerrada. Essa tendência religiosa é potencialmente prejudicial ao próprio MEB, pois, em grande parte, a fé raciocinada é somente um jargão vulgar, restando apenas uma fé cega, em que as leis que regem os fenômenos medianímicos são desimportantes, e tudo o que é dito mediúnico é tido como verdade. Ora, não conhecendo as leis e mecanismos envolvidos nos fenômenos medianímicos, os objetivos de determinado trabalho de um grupo mediúnico não serão atingidos ou terão um baixo rendimento. Além disso, são facilmente manipuladas e enganadas as pessoas que aceitam como realidade tudo o que, aparentemente, procede dos espíritos.

Abordando objetivamente os grupos mediúnicos, é usual que os trabalhos fiquem restritos ao atendimento dos desencarnados, passes, fluidificação da água e psicografia de mensagens de familiares, de receituários ou com um viés religioso, com pitadas de autoajuda. Tudo é aceito como verdade, e não há qualquer tipo de levantamento e análise sobre as características dos médiuns envolvidos nessa tarefa, nenhuma criticidade do conteúdo recebido e nenhum acompanhamento regular dos resultados a partir dos tratamentos propostos.

Geralmente, um médium principal dita as ordens, como um sacerdote, e o grupo, de forma passiva, realiza as ações de forma mecânica, depositando a fé no dirigente encarnado e nos espíritos envolvidos na tarefa. Também existem os grupos que realizam suas tarefas mediúnicas como se estivessem em uma empresa vulgar. Não se importam uns com os outros; não encaram os desencarnados como pessoas, mas como uma função que precisa ser realizada, enquanto aguardam o fim do expediente. O grupo não conversa. Em alguns casos, pessoas do mesmo grupo não se falam. É lamentável observar a falta de discernimento dos dirigentes que permitem algo desse teor.

Com o advento da pandemia de Covid-19, muitas reflexões e reformulações foram geradas sobre o papel das casas espíritas, dos grupos mediúnicos e do próprio papel do espiritismo na sociedade. Já não é possível analisar a sociedade brasileira do século XXI como se estivéssemos na França do século XIX. Esse erro tem efeito direto na abordagem estética, na linguagem e na organização das tarefas de um grupo mediúnico.

É chegada a hora de olhar o trabalho mediúnico com seriedade, mas sem o engessamento do pensamento e das ações. O grupo deve trabalhar com alegria, sinceridade, amizade e brilho nos olhos, daqueles que descortinam os segredos da natureza.

A proposta desse pequeno texto é sugerir alguns pontos de reflexão para os grupos mediúnicos, sejam esses antigos, sejam novos, sejam ainda os que serão formados, além da defesa da necessidade de os grupos terem métodos e protocolos de análise das capacidades medianímicas dos seus participantes, visando maior eficiência nas atividades [3].

Almejamos, sinceramente, que estes parágrafos sejam um estímulo para debates, estudos e uma prática medianímica mais consciente, gerando, consequentemente, um movimento espírita mais arejado, verdadeiramente apaixonado pela maravilha que é o contato entre os encarnados e desencarnados através de leis que aguardam, de braços abertos, a pesquisa atenta das pessoas interessadas nos inúmeros fenômenos envolvidos na interação entre os diferentes planos da vida. 

 

[1] DELANNE, Gabriel. Pesquisas sobre a Mediunidade. 1.ª edição Limeira: Editora do Conhecimento, 2010, p. 14.

[2] (Do francês: médianimique). Mediúnico. Qualidade da força dos médiuns. Faculdade medianímica ou mediúnica (PALHANO JR.., L. Dicionário de Filosofia Espírita3.ª edição Rio de Janeiro: Celd, 2008, p. 199.

[3] Indicamos a obra Reuniões Mediúnicas, de Palhano Jr., editada e publicada pela Editora Lachâtre.

 

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