A MULHER E O DESAFIO DA PERSEVERANÇA


 Lizarbe Lisboa Mesquita Gomes*

   Em o Livro dos Espíritos quando Kardec indaga aos Benfeitores Espirituais se quando somos espíritos preferimos encarnar num corpo de homem ou de mulher, eles respondem que isto pouco importa ao Espírito; depende das provas que ele tiver de sofrer. A seguir, no comentário lúcido de Kardec, ele enfatiza que: “Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não tem sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhes provas e deveres especiais e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens”. (Questão 202) 

                      Por certo podemos afirmar que, entre as experiências que o Espírito deve vivenciar ao encarnar como mulher, um deles é o desafio de perseverar para alcançar seus objetivos. Num mundo sempre desafiador tanto para homens como para mulheres, sempre se exigiu muito que elas, em todos os tempos, demonstrassem firmeza, perseverança e obstinação! 

                        Poderíamos citar aqui vários exemplos, no entanto, vamos trazer hoje um pouco da história de uma mulher admirável: Luciana Lealdina de Araújo (1870-1930) nascida na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul em 13 de junho de 1870, posteriormente mudou-se para a cidade de Pelotas na década de 1880.  Era descrita como uma negra alta que nasceu e cresceu em uma família de negros alforriados. Assim Luciana aprendeu a ler e a escrever e a exercer o ofício de costureira. Acolhida pelos irmãos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos de Porto Alegre, após a morte de seus pais, torna-se devota de São Benedito, muito popular por suas obras de caridade. Ao mudar-se para a cidade de Pelotas, sensibilizou-se com a situação das meninas órfãs, em sua maioria órfãs que estavam desabrigadas. Ao contrair tuberculose, Luciana prometeu ao seu santo de devoção que caso se curasse construiria um lugar para abrigá-las. Para tanto, sempre vestida com o burel de São Benedito, Luciana buscava arrecadar donativos pra manter as meninas e com o auxílio do clero e da elite pelotense conseguiu dois feitos importantes: fundou o Asilo de Órfãs São Benedito em Pelotas em 1901 e do Orfanato São Benedito em Bagé em 1909. 

                    Sem dúvida uma realização admirável de uma mulher que certamente teve muitos motivos para recuar e desistir de seus ideais por ser uma filha de escravos numa cidade do interior do Estado no final do século XIX. 

                     Atualmente, o Instituto São Benedito em Pelotas e   a Escola de Ensino Fundamental São Benedito em Bagé, prosseguem suas atividades como legados preciosos oriundos da iniciativa de uma mulher que teve determinação, coragem e soube vencer inúmeros desafios para auxiliar muitas meninas, oportunizando-lhes um futuro melhor. 

                      A inspiradora história de Luciana de Araújo bem poderia ser levada as telas de cinema e assim ser amplamente conhecida. Precisamos de exemplos que edifiquem, que dignifiquem e demonstrem o quanto é possível a todos nós transformarmos as adversidades e avançarmos mesmo em terreno hostil quando levamos conosco a vontade firme de servir de sermos solidários uns com os outros. 

                      Neste mês de março, dedicado à mulheres, nossa singela homenagem a todas que, com perseverança, contribuem para o progresso das deias e se valem de sua inteligência e seus talentos para que a fraternidade se estabeleça entre todos!



*Licenciada em História, com especialização em História da Arte, é professora da rede pública estadual, residindo atualmente em Pelotas-RS. Estuda a Doutrina Espírita desde os dezoito anos, quando passou a frequentar o Centro Espírita Paz Luz e Caridade, em Pelotas-RS, onde passou a participar de reuniões mediúnicas e exposições doutrinárias.
Atua como médium psicógrafa, já tendo escrito, em parceria mediúnica, os livros: Viver, o eterno desafio (espírito Rosália Machado); O monge e o guerreiro, Veredas da paz, Uma chance para o amor (espírito Fernando) e Enquanto estás a caminho (espírito Ana Cecília). Divulga o espiritismo por meio de artigos, palestras e entrevistas de rádio e TV.


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