O Código Divino

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Inesquecível

Presença

 

Acomodamo-nos em nossos assentos e o instrutor Antônio Alves agradeceu-nos, comovido, por nossa aceitação, e informou-nos que, dentro de mais alguns minutos, no horário estipulado, teríamos a aula inaugural por conhecido amigo que abordaria, de forma geral, as atividades que empreenderíamos dali por diante.

 Logo em seguida, nosso instrutor fez adentrar à sala Seminário I a figura inolvidável e respeitada de dr. Bezerra de Menezes.

 Dr. Bezerra de Menezes vestia-se sobriamente e trazia, no rosto, suave expressão de simpatia e paternidade. Apesar da aparência de avançada idade, como sempre se mostrou à visão mediúnica, demonstrava, simultaneamente, vigor e serenidade.

 Olhou-nos a todos, dispensando a cada um seu magnetismo acolhedor e reconfortante. Assim, não sabíamos se permanecíamos sentados ou se nos levantaríamos de nossos assentos, em profunda atitude de respeito, relembrando os velhos tempos da meninice, na Terra, quando era costume os alunos se levantarem à entrada do mestre em sala de aula.

 Percebendo a nossa intenção, fez, com a mão, gesto expressivo que nos conteve e falou, ou melhor, ouvimos o seu pensamento:

 – Meus filhos, peço-lhes que me vejam apenas como um companheiro a caminho que, como todos, esforça-se por conhecer as claridades das trilhas traçadas por Jesus, para a nossa evolução, mapeadas com segurança e sabedoria nos seus Evangelhos, a tentar a eliminação da miopia espiritual que dificulta a compreensão e visualização dessas trilhas por Ele traçadas. Hoje, conversaremos sobre “Ação e interação mental”.

 Iniciou com a reflexão de que a Terra passa por uma fase de grande sofrimento e, simultaneamente, de endividamento para com as contas celestes. Esse sofrimento gerado pelo próprio orbe jamais dispensou ou dispensará as atenções amorosas do Sublime Amigo e o compromisso coletivo das nações constituídas, que também não ficaram e jamais ficarão sem o farol-guia, apesar de se comportarem como naus desgovernadas e à deriva, à devastação das ondas, em sérias tempestades que poderiam ser amainadas se colocassem Jesus ao leme.

 – Grande contingente de espíritos, irmãos em Humanidade – prosseguiu com voz tranquila –, acumulados de pesada bagagem de desconcertos, assumiram as formas transitórias do corpo físico, em várias partes do mundo, por bênção do Senhor, para mais uma tentativa de libertação da arrasadora dependência química, das psicoses de etiologias desconhecidas dos homens, das profundas pressões oriundas de culpas atrozes e de tantas outras moléstias da alma.

 “Alguns já ultrapassaram a fase da adolescência e atingem o período da maturidade pré-adulta, no entanto outros, caminhando nas atividades lúdicas da infância, sonham com as lembranças boas do passado, a acalentar esperanças renovadoras; outros, porém, já deixam emergir, na puberdade, o próprio acervo, composto tanto pelas melhores quanto pelas duras realidades espirituais e, de permeio, invariavelmente, a franca abertura de canais de comunicação com suas vítimas, hoje implacáveis algozes; ou o franco convite à convivência íntima por sutil sintonia com espíritos de interesses e frequências vibratórias similares, infelizes oportunistas.

 “À espreita, nas sombras da marginalidade, algumas forças dissimuladas de ataque ao narcotráfico estendem tentáculos sobre tantos infelizes, a partir das lideranças em permanente antagonismo por controle territorial nas favelas, nos guetos, na faixa urbana, sob o gládio dos verdadeiros comandos, invisíveis para o cenário do mundo.

 “Infiltradas nas áreas administrativas, políticas e judiciárias das nações, tais forças são todas cúmplices voluntárias daqueles torturados corações da vida espiritual.”

 Dr. Bezerra de Menezes expandia sua emoção, envolvendo-nos, e, à medida que discorria com fluência, grande tela tomou forma no espaço, à sua esquerda, e imagens ora estáticas, como slides, ora vivas, surgiam em sequência de movimento, ilustrando a sua palestra com precisão e sincronismo. Ao prosseguir, acrescentou que a paisagem assim oferecida, com sua realidade, é dolorosa com aspectos que denotariam impossibilidade de solução, como se Sodoma e Gomorra tivessem tomado proporções continentais, tendendo para a autodestruição pela inversão dos valores morais e conceituais, pela velocidade de propagação de uma moléstia contagiosa que trava, à impotência, os verdadeiros valores dos corações que vislumbram as luzes do Evangelho.

 Nesse momento, o querido mentor espiritual parecia se transfigurar e, sutilmente, perpassou o olhar por todos nós; e sempre a se dirigir a nós como seus filhos, deu prosseguimento, considerando que a misericórdia infinita de Deus sempre será permanente, lembrando o Espírito Verdade ao asseverar: “Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando–vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe morte, vos socorrais mutuamente...”

 – Vale reconhecer, meus filhos, que os operários de Jesus para a reconstrução moral do homem são os próprios homens, como espíritos eternos, e já se despertam, gradativamente, para as claridades da Lei Universal, imanente na consciência, pois tornam-se visíveis os meritórios exemplos das fraternidades de ajuda mútua espalhadas pelo mundo; dos grupos religiosos socorristas de boa vontade operando com a fé; de equipes que atuam utilizando-se da própria experiência como ex-dependentes; das clínicas especializadas com recursos científicos e de alguns ensaios utilizando-se das claridades da epigenética e do biomagnetismo; da ação espírita e espiritualista promovendo o auxílio, especificamente, no campo da desobsessão através da atitude morosa do esclarecimento a algozes e vítimas. Poucas, ainda, são as instituições que, sob a ótica do espiritismo, mergulham no processo integral da terapia, uma vez que além da fluidoterapia e do esclarecimento com Jesus, a ação é bastante complexa, interdisciplinar a exigir, além de boa vontade e dotes do coração, muita experiência, vivência redobrada e conhecimento, sem improvisos.

 “É imprescindível estimular as pessoas a promoverem, mais largamente, a união da fé com a razão; da força da religiosidade com os paradigmas da ciência já alcançados pelo conhecimento do mundo, prosseguindo no despertamento dos homens da moderna medicina a fim de que percebam a mente a transcender os fluxos de cargas químicas e elétricas entre neurônios e axônios, através das sinapses, na intimidade do ser; que ondulações invisíveis, ainda não mensuráveis, em complexa rede circulam como determinação divina, todavia se abatem perturbadas por personalidades intrusas ou pela própria individualidade doentia do espírito que a comanda. Não obstante esse estado de coisas, reservam-se esperanças e a certeza de que, num futuro próximo, aqueles que, na Terra, detêm o conhecimento a respeito das diversificadas dimensões no mundo dos espíritos ampliem, aprofundem e dominem mais o entendimento a respeito da ciência do espírito, principalmente dos mecanismos das relações entre os dois planos de vida, da capacidade medianímica de cada ser passível de ilimitado desenvolvimento para melhor atuação e desempenho. E a associação dessa ciência do espírito à ciência da psique em suasvárias escolas do mundo acadêmico, se amalgamadas pelo Evangelho do Senhor, há de promover a libertação da alma prisioneira de si mesma para um voo sereno na direção celeste.”

 Para a nossa satisfação noticiou que vários grupos como o nosso estaria aperfeiçoando-se através de programa estabelecido por benfeitores dedicados, para atuarem em várias localidades, a fim de orientarem a ação espiritual em diversas instituições cujos dirigentes terão seu interesse despertado para os casos que a ciência da Terra não consegue identificar ou chega a classificar, mas andando às apalpadelas. Simultaneamente, dedicados servidores espirituais, que na Terra colocaram seus esforços e corações no tratamento dos distúrbios mentais, hoje, com mais desenvoltura, agiriam junto a clínicos e terapeutas, pelo intercâmbio da intuição, uma vez que deixaram seus nomes e reputação gravados no mundo, em virtude do avanço que promoveram no conhecimento da alma humana na França, na Suíça, no Brasil e na Alemanha, porque a dor alheia tocou-lhes o sentimento de fraternidade e de amor ao próximo, embora tantas vezes dificultado pela sombra do materialismo...

 Tocado de funda emoção, o nobre amigo pareceu iluminar-se quando prosseguiu:

 – Enquanto as claridades da ciência promovem o auxílio, o aprendizado, o tratamento e o benefício, as luzes que provém da Maria de Nazaré vão ungindo as feridas tão doloridas do coração humano, acalentando mães ansiosas e aflitas por seus filhos à beira do precipício, aliviando-lhes, um a um, cada espinho dos pés cansados de tantas caminhadas na esteira dos séculos...

 Nesse instante, a tela adquiriu coloração azulada e, dentro de uma aura de suave luz, plasmou-se a beleza do rosto delicado e angelical, nítido e vivaz, de Maria de Nazaré, como eu jamais vira em qualquer pintura ou representação escultórica dos grandes gênios do mundo das artes plásticas.

 Nenhum de nós ousou conter a emoção.

 Terminada a exposição, o benfeitor espiritual agradeceu-nos a atenção, envolveu-nos com sua vibração de carinho como num abraço, acenou-nos e se retirou, calmo como chegara, enquanto permanecíamos em silêncio sob o domínio de um invisível campo de confortadoras energias, ainda não experimentadas.

 Numa reunião subsequente, nosso grupo foi estimulado a selecionar casos dentre os que vínhamos acompanhando, relacionados à esfera terrestre, no mundo dos encarnados, a fim de atuarmos, agora em treinamento específico.

Os vinte e cinco do nosso grupo foram subdivididos em cinco grupos de cinco componentes, e cada subgrupo contaria com um instrutor que, além de coordená-lo, estabeleceria a ligação entre nós e o centro geral das operações, responsável pela implantação e desenvolvimento do programa.

 O velho amigo Antônio Alves, para meu contentamento, definiu-se como nosso instrutor. Comigo permaneceram Arnaldo, Isabela, Luciano e André.

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